terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Vespa Ceramista



Um escultor aqui de Curitiba, Expedito Rocha, que lutou contra a ditadura e esteve confinado, escondido, durante dois anos num apartamento, em São Paulo, onde conheceu o entalhe em madeira e cuja primeira exposição teve o apoio de Pietro Maria Bardi, ao ser perguntado sobre o significado das esculturas abstratas que fazia respondeu rapidamente: quando estou sem idéia faço isso...
Acho que grande parte de escultores, ceramistas, pintores, etc, sempre tem um tema na gaveta que retiram e fazem uso para poder dar vazão à sua compulsão de trabalho, em momentos em que aguardam alguma inspiração ou até para cavarem nova inspiração. Também sou assim, de vez em quando modelo um figurativo, preciso, gosto. Vejam a figura que modelei há alguns anos e que ficou numa prateleira porque estava com preguiça de queimar. Todavia, quando alguém quis comprar, durante 17 horas, fiz a queima no forno à gás. Como o controle é manual a preguiça significava quase um dia inteiro de atenção, porque, sendo grossa a parede da escultura, precisava um gráfico de queima próprio, demorado. Hoje, se for preciso, queimo qualquer tamanho de peça cerâmica, inclusive construindo um forno ao redor da peça. Não tem muitos segredos, basta paciência e algum conhecimento.
Bem, enquanto a figura em questão estava esquecida, uma família de vespas fez um ninho no cabelo da escultura e, depois de algum tempo, foi embora. O ninho ficou lá. É construído com argila e secreção de vespa. Achei muito bacana e queimei com o cuidado necessário para não danificar minha associada. A queima ficou perfeita e está aí o ninho perfeitamente integrado à escultura. Evidentemente que rendeu mais alguma merrequinha pelo efeito, valor este que repassei às vespas, devidamente. Estou tentando incrementar esta parceria....

domingo, 9 de janeiro de 2011

CERAMISTAS PAULISTAS


Ontem, sábado, recebi a visita da Diane Cossermelli (www.terraestudio.com.br) e da Nadia Saad (www.nadiasaad.com.br e nadiasaadbr.blogspot.com). A primeira tem o Terra W Estudio, e a Nadia é designer cerâmico. São de Sampa. Conhecia ambas do Congresso de Cerâmica de Curitiba. Passamos o dia inteiro no meu ateliê. Conversa agradável sobre a cerâmica, construção de fornos, cerâmica arqueológica, trabalhos futuros, passados, etc. Até sobre culinária, porque sendo turcas, as duas, com um freezer dentro do carro, com kibes, sfihas, tâmaras, abricós, etc, o assunto não poderia tomar outro rumo (elas vinham de Sampa e iam a Florianópolis e, para essa distância, é necessário muita comida...). A culinária árabe é das mais fantásticas.
As duas são grandes ceramistas. Tenho uns 80 livros de cerâmica e aproveitamos para trocar nomes de autores, livros, xerox nunca porque é proibido...A gente aprende muito conversando sobre aquilo que nos interessa. As pessoas de boa onda enriquecem a nossa vida.
Sempre as pessoas se encantam com a profusão de argilas coloridas nas cercanias do meu ateliê. Circulamos pelos arredores, na Estrada da Graciosa,mostrei os barrancos e, claro, vários saquinhos plásticos foram enchidos com argilas de diferentes colorações.
Não pensem que tudo é só no papo. Para poder catar alguma argila sempre é necessário uma trabalhadinha, mesmo que seja de leve. Por isso, flagrei as duas com as mãos na massa, literalmente.
A atividade cerâmica, além de lúdica, é altamente ilustrativa e gostosa. Começar a prestar atenção nos barrancos, nas argilas de diferentes colorações modifica o olhar do ceramista. Vê a possibilidade de adicionar qualquer material natural, inorgânico, à massa. Pode ser até orgânico, pois deixará o vazio com a queima correspondente, o que já é forma.É comum usarem-se bolinhas de isopor, misturar na massa e depois queimar. Fica o espaço vazio, regular, programado. Mas pode ser qualquer material orgânico, serragem, cepilho, toquinhos, sementes, etc.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

TRABALHANDO NAS FÉRIAS





Trocando isso por aquilo, foi reeditado o Livro da Rachel Carson, em 2010, Primavera Silenciosa, considerado o primeiro grito de alerta sobre o uso de produtos sintéticos, DDT, BHC e derivados, e os problemas ambientais advindos do abuso e mau uso destes inseticidas. O livro dela estava esgotado há muito tempo e, nos sebos brasileiros, pelo menos no Estante Virtual, tinha uns dois volumes e o preço era de mais de quinhentos reais. Agora, por trinta e cinco reais, pode-se comprar este alerta para a Humanidade. O que é muito interessante é que o livro é Atualíssimo, as coisas não mudaram, pelo contrário, pioraram e o Homem está afundando vítima da sua própria pretensa inteligência. Nesta linha de livros acredito que tem mais dois que se completam: Dieta Para um Pequeno Planeta e O Futuro Roubado. O primeiro é dos anos 80 e propoe maneiras de alimentar correta e ambientalmente, e o segundo do final dos anos 90, O Futuro Roubado é um grito mais atualizado e tem pesquisas mais amplas aproveitando o alerta da Rachel Carson. Sobre Meio Ambiente e Natureza é bom conhecer o autor americano, responsável pelo posfácio da reedição do Primavera Silenciosa, que é o Edward O. Wilson, o qual, além de escrever de maneira cativante é um defensor da Vida muito claro e consciencioso, Seu livro O Futuro da Vida é bem importante, de cabeceira. O sueco Kasl-Henrik Robèrt, em seu Livro The Natural Step propõe uma alguns passos de atitudes a serem tomadas como forma de atuação para melhoria do planeta, também é uma leitura muito boa.
Estou trabalhando com texturas nas massas cerâmicas e me deixando ser contaminado pela cerâmica arqueológica indígena.
Nestas texturas, estou experimentando "pellets", pelotas (técnica de adicionar na massa material que ao ser misturado e queimado corretamente criam pelotas, pequenas (podem ser grandes) bolas, na superfície) . Achei muito interessante o resultado e estou continuando as experiências.
Na outra peça, de inspiração arqueológica argentina, queimei a 1263 graus centigrados em atmosfera redutora. O engobe é um que já havia mostrado anteriormente, sem queimar, é de ferro com 30% de base alcalina. O engobe de ferro em alta temperatura é muito interessante, o ferro fica preto e com um pouquinho de brilho, devido às base alcalina. Para reduzir o brilho é só reduzir a quantidade de esmalte (base).

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

TECNICATURA CERÁMICA - MÓDULO 3


Demorei praticamente o ano inteiro de 2010 para conseguir completar este módulo que era complexo e exigia demasiado.
- Hornos Cerámicos
- Engobes
- Arqueologia Indígena Argentina
Estes três ítens são extensos. Compreender como funcionam os fornos, calcular potências de maçaricos, aberturas de entradas e saídas dos fornos, formatos eficientes, etc. não se aprende de uma hora prá outra. É necessário dedicar-se, estudar, construir fornos, inclusive, para poder sentir a diferença dos modelos. Por exemplo: fornos redondos, quadrados, retangulares, em arco romano, em arco catenário, que são os principais. Fornos para alta temperatura, para baixa temperatura, raku, etc. O Maestro é radicalmente contra o uso de fibras cerâmicas em fornos devido à grande toxicidade dela. As fibras que são constituídas de agulhas de vidros (argila expandida) ao serem respiradas cravam-se nos nossos pulmões e a consequência é um câncer a longo prazo. Quem já trabalhou com fibras sabe que, se não se usar máscara, boné, roupa tapando todo o corpo, luva e óculos, acaba tendo uma tossezinha esquisita, sinal evidente de que se respirou aquele material.
Mostra, el Maestro, como preparar fornos simples, de fácil confecção, com materiais naturais e de grande eficiência e economia.
A Instituto apresenta método próprio para preparar engobes, usando 30 % de uma base alcalina. Nas práticas usaram-se os óxidos mais comuns, de cobre, cobalto, manganês e, também, argilas. Juntei a cerâmica arqueológica com os engobes, que foram muito usados pelos indígenas tanto brasileiros quanto pelos argentinos. Os indígenas argentinos usavam o salitre do chiule para vitrificar os engobes, que é o nitrato de sódio. Sempre existiu essa mistura de culturas, tanto a Marajoara, Santarém, Maracá, com as do sul, mais ainda com as argentinas que tem registro histórico datado desde 600 AC. A argentina descende de cerâmica que começa na costa do Pacífico, sobe os Andes e depois se espalha pela pampa, tendo seus focos de origem registrados como sendo os mais antigos do Peru e do Equador. Claro, durante os milênios os contactos e as influencias com as culturas amazônicas e do sul, guaranis, foram constantes.Sempre houve essa troca.
Há anos que venho aprendendo a trabalhar com o torno. Agora aproveitei para tornear peças com inspiração arqueológica, vejam o resultado. O vaso maior é de uma figura com desenho arqueológico argentino, onde o shamanismo era muito forte. Os animais de nossa américa eram constantes nos desenhos arqueológicos, como o jaguar, o louro, o sapo, a serpente, etc. e não é raro encontramos desenhos destes animais na cerâmica popular de nossas americas, principalmente a central e a do sul.
O objetivo disso tudo é aprender para poder trabalhar com tranquilidade, porque o que eu quero mesmo é poder me divertir fazendo cerâmica e também ganhar um dinheirinho que ninguém é de ferro, mas se o fôssemos, uma raspadinha na nossa casca daria para colorir uma base alcalina (rá,rá,rá!).

domingo, 2 de janeiro de 2011

CURSO À DISTÂNCIA/CERÂMICA - Modulo 1

É muito sério e trabalhoso o curso à distância do Instituto de Ceramologia Condorhuasi do Maestro Chiti. Tive que conviver com os livros do Instituto Condorhuasi. Em alguns momentos estava difícil dedicar-me com a atenção e afinco necessários para completar as lições. Tive que demandar esforços extras. Todavia, estava muito interessado em fazer a Tecnicatura e considerei, o tempo todo, muito importante para o meu conhecimento cerâmico, prático e teórico.Os resultados apareceram, houve uma modificação no meu conhecimento, uma transformação no meu trabalho e na intimidade com que eu comecei a tratar os materiais, a técnica e a cerâmica como um todo. Foi o resultado de estar durante dois anos lendo quase diariamente sobre cerâmica, consultando outras fontes, comparando e fazendos as lições práticas. O conhecimento não se faz com palavras, mas com dedicação e muito esforço. Porém, como a cerâmica é um assunto que gosto demasiado, houve, durante todo este tempo, uma atenção especial e um prazer em estudar e ver encaixando todas estas matérias na minha organização mental de conhecimento.
No modulo 1, ainda não estava enviando as fotos dos trabalhos práticos que fazia, reportava-me sobre eles e demonstrava os resultados.
O Instituto Condorhuasi apresenta um MÉTODO de aprendizado com TÉCNICA. Isto é que é interessante e produtivo. Você pode entregar-se ao aprendizado. Depois, vai adaptando às suas matérias-primas ao seu modo próprio de trabalhar ao seu caminho particular. Mas o importante é que pode seguir uma trilha segura. Com a leitura de outras fontes, com a internet apresentando trabalhos em quantidades incríveis, com cabeças todos os tipos, viradas do avesso, inclusive(o que não é ruim), tudo isso faz parte, é um pedaço de nós, porque somos tudo, somente que escolhemos aquilo com o que nos identificamos para sermos seres melhores (bom é acreditar!).
No Módulo 1 o conteudo foi o seguinte:

MATERIAS: (Baja, media y alta temperatura. Incluye gres y porcelana).-
1) Arcillas y pastas cerámicas (con microscopía y laboratorio de análisis).-
2) Realización de vasijas (métodos manuales).
Há uma diferença entre o curso que estava sendo ministrado no Instituto e o que foi cursado à distância. Tive que comprar alguns equipamentos para acompanhar. UM bom almofariz de porcelana, uma balança digital de precisão com duas casas decimais, ou seja, pesar 0,01 grama, tubos de ensaio, copos de becher, erlemeyr, etc. Foi preciso para diagnosticar argilas, talcos, caulins, etc. Como sou engenheiro químico, tinha já intimidade com toda essa traquitana de laboratório e foi tranquilo realizar as práticas de análise. Claro que ver alguém falando sobre o resultado é diferente de olhar à distância, mas sempre foi possível trocar informações para tirar dúvidas.
Bueno, várias massas foram preparadas, porcelana, inclusive, com materiais diferentes misturados, chamotes, arenitos, vermiculita, etc. Depois, sempre se aproveitou para confeccionar alguma peça usando os métodos do Instituto Condorhuasi.
Vejam, por exemplo, uma forma muito prática de colar duas partes de peças cerâmicas que estão sendo modeladas que devem ser ocadas e depois coladas, ou placas que devem ser juntadas. O método Condorhuasi é o seguinte: unem-se as partes com um pouco de massa com silicato de sódio e fazem-se incisões profundas que pegam os dois lados das peças que se estão juntando. Depois passa-se uma massa mais mole nos sulcos que ficaram das incisões e dá-se o acabamento. Em toda a parte eu estava acostumado a ver essa junção sendo feita apenas passando uma serrinha de metal para fazer sulcos, não muito profundos, nas partes que se deveriam unir, depois passar uma massa mole, tipo mingau grosso, unir e dar o acabamento. O método Condorhuasi é muito mais garantido, eficiente, principalmente para esculturas que são ocadas fazendo corte em partes.
Os Livros que serviram de base para este curso, todos do Maestro Jorge Fernandes Chiti, do Instituto Condorhuasi,são:
Toxicologia Cerámica - 1 volume,
Cerámica Arqueologica Indígena Argentina - 1 volume,
Dicionário Cerámico - 3 volumes,
Curso Practico de Cerámica - 4 volumes,
Manual de Esmaltes Cerámicos - 3 volumes,
Hornos Cerámicos - 1 volume,
La Simbolica - 2 volumes,
Diccionário Indígena Argentino - 1 volume.