terça-feira, 28 de julho de 2009

CERÂMICA GUARAQUEÇABA-2a.parte







Retornei a Guaraqueçaba para completar o curso de Cerâmica Básica. São oito dias em duas etapas. Nesta segunda etapa construí o forno artisanal para queima de biscoito, com temperatura maxima entre 800 a 900 graus centígrados. Para efetivar essa construção conto com a ajuda de todos, do contrario não teria sentido até porque é uma atividade super importante a construção e conhecer como se constroi um forno. Principalmente este forno que é feito de tijolos e argila preparada com um antiplástico, sendo que na cobertura final, para suportar melhor as intempéries cubro com uma massa autofraguante. O tempo estava chuvoso nesta segunda etapa. O ultimo dia foi de chuva forte e, com vento sul, frio. Mas eu gosto de frio e de chuva também, não tem mau tempo.
Sempre na segunda etapa do curso eu percebo melhor o que está acontecendo com as pessoas que participam, sua forma de trabalhar, seu grau de conhecimento e qualidade técnica.
Em Guaraqueçaba, como em todas as comunidades que conheci, com excessão da comunidade Quilombola João Surá em Adrianópolis, há um desafio permanente de convívio entre as pessoas em direção a um objetivo comum. É dificil conseguir uma união total entre as pessoas. Mas acho que, no balanço geral a Cooperativa de Guaraqueçaba está caminhando para uma melhoria. Aos poucos alguns trabalhos tem melhorado. A cerâmica está precisando de um acompanhamento técnico em várias setores da cerâmica artesanal. Primeiro porque, sendo uma comunidade isolada, não tem como as pessoas fazerem cursos de aperfeiçoamento facilmente. Precisam vir a Curitiba ou ir a Sampa o que é mais difícil ainda. Para fazer um diagnóstico , quando se tem mais acesso ao conhecimento, torna-se mais fácil. São duas partes: a técnica e a artística. Na parte técnica, por exemplo, formas de gesso para fundição em cerâmica simplificaria muito, trabalho. A serigrafia com trabalhos fotográficos ou mesmo mesmo decolcomanias, vidrados mais baratos, como, por exemplo, de argilas, cinzas, feldspatos, etc. O acabamento é o nó górdio da maioria da cerâmica popular, principalmente quando existe um trabalho a ser desenvolvido e isso, às vezes, demora uma geração. Não dá para enganar o rústico com o mal feito, por isso, o capricho, o acabamento é essencial. Nisso eu vejo que as pessoas estão melhorando. Porém, um investimento com mão de obra qualificada para ajudar a superar etapas simplificaria o resultado.
Na parte artística, precisaria ser feito um amplo estudo das características locais, para desenvolver um artesanato com as impressões da cultura que aí se desenvolveu e a presente. Depois criar esse artesanato, incorporá-lo ao fazer artístico.
Mas a Cooperativa está encontrando seu caminho, indo atrás de verbas que possam ser direcionadas para esses quesitos.
Sempre levo comigo muitos livros, alguns dvds sobre cerâmica que ajudam a compreender o que está ac ontecendo em outros lugares, para que se coloquem todos em pé de igualdade.
Tem talentos, como de resto em toda parte, que podem e estão sendo aproveitados e é um prazer dar aulas onde as pessoas fiquem interessadas e executem trabalhos com vontade e o resultado aparece.
Aparecem na foto umas peças de cerâmica pequenas. São chumbeiros. Chumbeiros são pesos para serem colocados em redes de pesca. Antes da disseminação das chumbadas de chumbo mesmo, tão fáceis de serem adquiridas, os chumbeiros eram confeccionados de cerâmica. Estes das fotos foram modelados por pescadores e cada um tem sua função e sua forma de adaptar na rede para uso. Foi interessante a observação de um filho de pescador, que tinha visto seu pai confeccionar estes chumbeiros e queimá-los em forno artesanal, próprio para a queima cerâmica. Ele, sabendo que na cooperativa estam tendo problemas de entornamento e rachaduras nas peças, perguntou se usavam areia na massa. A areia, como um dos principais anti-plásticos cerâmicos, que ajuda a não rachar, entornar e melhora a secagem, era o material adicionado à argila para compor a massa dos chumbeiros
Na outra foto vemos a Iolanda, artesã de Guaraqueçaba, modelando suas figuras expressivas e já premiadas.
Tenho particular carinho pela Cooperativa de Guaraqueçaba, pelas pessoas, e me esforço para repassar tudo o que conheço de forma honesta e sincera.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

CERAMICA BASICA EM GUARAQUECABA-PR




CERÂMICA EM GUARAQUEÇABA



Voltei, depois de alguns anos, a Guaraqueçaba para dar um curso de Cerâmica Básica, na Cooperativa dos Artesãos. A sede, à beira mar, é de primeira qualidade, construída pelo Governo do Paraná. Há 5 anos atrás comecei a dar os primeiros cursos de cerâmica que aqui não existia, a não ser em tradição, já perdida. Guaraqueçaba é um município situado dentro da Baía de Paranguá, na parte norte. É um dos municípios mais antigos do Estado. A tradição cerâmica existiu ha algum tempo atrás, principalmente pela Sinhorinha, conhecida ceramista, da Ilha dos Medeiros. Sobre ela foi feito um video, quando em vida, que corre por aí e eu possuo uma cópia.
Voltando à Cooperativa, estava curioso para saber como desenrolaram os trabalhos dos associados, depois de todo esse tempo e sentia necessidade, inclusive, de saber se tinha gerado frutos permanentes. Alguns ceramistas populares daqui foram premiados nos três últimos Salões de Cerâmica de Curitiba. Neste trabalho de Geração de Renda, com patrocínio do Estado, e agora pelo Senar-PR, nem sempre é compensador. Depois de ir num lugar, dedicar-se, tentar chamar as pessoas para desenvolver um trabalho de independência, se não houver continuidade , acompanhamento durante um tempo mínimo, a idéia morre e a foirça perde o ímpeto.
Guaraqueçaba é uma cidade muito bonita, charmosa, situada num ponto geográfico estratégico da baía de Paranaguá. Sempre gostei daqui. Desde sempre.
Na Cooperativa são desenvolvidos vários trabalhos: cestaria, papéis artesanais, utilitários de Madeira, trabalhos de cestaria e Madeira feito pelos índios guaranis , artesanato com conchas são vendidos na loja. Além da cerâmica, é claro. A cerâmica tem todos os equipamentos necessários para desenvolver uma certâmica de excelência. Forno de alta temperatura, elétrico, maromba extrusora de grande potência, plaqueira, torno cerâmico elétrico, dois tornos de pedal, e um espaço muito grande para uso e abuso.
A cerâmica necessita continuidade. O modelado, o acabamento não se aprende rapidamente. Necessita estudo, aprendizado continuado. Percebo que depois de muitos anos estudando cerâmica, mesmo sendo Engenheiro Químico, ainda encontro tantas coisas a aprender que vejo diversão para resto da vida e ainda deixar incompleto tudo o mais que eu gostaria de aprender.
Vou construir um forno à lenha de baixa temperatura para queima de biscoito, iguais àqueles que construí noutras comunidades e que funciona de forma perfeita. Percebo que a sobrevivência de cooperativados, associados, artesãos, necessita de um aperfeiçoamento constante e uma visao de Mercado, um pouco simples, mas objetiva. Qual é o artesanato que melhor vende? Acredito que a personalidade do ceramista é o que mais conta. Tem que existir o Mercado consumidor, evidentemente, mas aqui tem. Os turistas aqui afluem e é preciso saber o que vai agradá-los e produzir com qualidade. Panelas, cinzeiros, porta guardanapos, vasos, travessas, pequenas esculturas, luminárias, bijuterias, são , basicamente, os produtos.
O que se precisa melhorar e trabalhar bastante é o acabamento, não confundir o rústico com o mal feito é o lema. É nisso que estou batalhando na Cooperativa.
Voltarei daqui a 8 dias para completar o curso.